18 outubro 2006

A Primeira Vêz - Acto 1


Depois de muitas noites de incompleta mas incontida paixão na sala de chat e ao telefone, da partilha virtual de tantos gostos comuns como poesia, musica e palavras, finalmente iriamos conhecer-nos cara a cara. Viajara centenas de kilometros sob um pretexto inventado para desfazer as dúvidas que teimavam em fazer parte do meu dia a dia de forma constante.

Estava nervosa pois a tua opção ditatorial de nunca ligar a webcam ou sequer enviares uma foto deixara-me completamente desarmada. Não fazia a minima ideia de como seria aquele tão esperado encontro, nem como eras fisicamente. Sabia apenas que ao longo de mais de dois meses tinhas despertado em mim sensações e desejos que estavam completamente adormecidos antes. E isso era suficiente para apesar dos receios ir em frente.

Esperei nervosa a hora combinada para receber a tua chamada que me levaria a descer oito andares e encontrar-te na rua á minha espera, apenas com uma referência. Um carro de determinada marca e o modelo. Sem mais nada.

Mais uma vêz deixas-te a tua acentuada marca escorpiana ao ligares dez minutos depois da hora acordada. Nada em ti acontece por acaso. Sabias da minha ansiedade e de forma superior decidis-te prolongar-me o sofrimento. Quando o telefone tocou, as minhas mãos tremiam. A tua vóz acalmou-me por segundos mas o facto de me mandares descer e aguardar na rua deixou-me mais baralhada ainda. Mas obedeci. Nada nem ninguem naquele momento, a não ser tú, me faria recuar.

Esperei cerca de dez eternos minutos com os olhos em todos os carros que circulavam naquele fim de tarde. Numa das avenidas mais movimentada da cidade as referências que me tinhas dado eram comuns a várias viaturas com as mesma descrição. Sentia-me usada e demasiado ansiosa enquanto olhava para todo o lado. Imaginei até que estivesses ali bem na minha frente observando-me e eu sem nada poder fazer para te reconhecer. Transpirava de raiva e emoção pois a cada longo minuto a expectativa aumentava. Tal como o desejo que me invadia.

Finalmente senti claramente que não poderia haver engano quando vi um carro a baixa velocidade a aproximar-se do local onde me encontrava. Lá dentro com os olhos fixos no meu corpo reconheci-te inteiro. Sem sequer necessitar de um sinal avancei para ti e abris-te a porta do meu lado. Sentei-me e disse-te "boa tarde... finalmente... ". Não me deixas-te continuar. Um dedo depositado no meus lábios acabou com todos os meus argumentos. "Não fales enquanto não fôr completamente indispensável... goza apenas o momento que tanto esperámos" ordenaste em tom autoritário mas doce.

Arrancámos dali sem mais palavras e o coração parecia saltar-me do peito. Pretendias prolongar a atmosfera de mistério e senti medo de ti e desejo e raiva e paixão e um carrocel louco de sentimentos que me afogavam. Aquele momento que tanto esperara estava a acontecer e não me sentia agora tão preparada como pensava estar. O teu alheamento fisico de mim e a falta de diálogo aumentava a minha tensão a cada km percorrido. A distancia fisica da sala de chat continuava ali entre os bancos daquele carro em acelerado movimento para fora da cidade. Mas existia calor e desejo tal como nas muitas noites em que ficavamos a teclar. Tudo aquilo que pensei dizer e fazer no momento em que te visse apagou-se-me repentinamente. Bloqueei perante a tua frieza e desarmante segurança.

Finalmente olhaste-me nos olhos por momentos. "Confia em mim. Vamos a um local afastado e sossegado", disses-te enquanto agarravas a minha mão gelada. "Quero que se cumpram todas as promessas que fizemos nos ultimos meses um ao outro. Garanto-te que de mim terás tudo quanto mereces e espero receber igual". Senti-me voltar á vida. O contacto entre as nossas mãos e a forma como falas-te encheram-me a alma. Puxei a tua mão para o meu rosto e beijei-a. Estavas quente em contraste com a frieza inicial das palavras e dos gestos. Ou melhor, sentia-te aquecer a cada instante.

Libertaste a tua mão e pousaste-a na minha perna por cima da saia, muito próxima das coxas. Lentamente afagaste-as e por instinto abri as pernas como que a guiar-te. Não te fizes-te rogado e mesmo por cima da saia de tecido fino, acariaciaste-me o sexo. Estava molhadissima e a pressão daquela mão enorme e delicada obrigou-me a um suspiro profundo. Demoradamente deixaste a mão ali acariando-me o sexo com os dedos enquanto alternavas o olhar entre o meu rosto e a estrada. Relaxei-me no banco do carro e fechei os olhos. Por breves segundos senti-me voar. Estava a cumprir um sonho e estava disposta a tudo para o eternizar. Dessa disposição fazia parte aproveitar ao máximo cada gesto, cada palavra, cada caricia tua.

A aproximação lenta a uma portagem e vozes vindas da proximidade de outras viaturas fez-me abrir os olhos. Constrangida olhei á volta na tentativa de descobrir se ninguem nas estaria a observar-nos pois a tua mão continuava a excitar-me. Tú indiferente olhavas apenas em frente e conduzias devagar como se nada se passá-se. Por entre um amontoado de gente num autocarro que lentamente circulava ao nosso lado, descobri um rosto velho e gasto de mulher, cabelos brancos e olhos vivos e bonitos. De cima ela via claramente a tua mão entre as minhas pernas. Sorriu-me ligeiramente e piscou-me o olho num evidente gesto de cumplicidade. Senti-me embaraçada e apertei ainda mais as pernas na inutil tentativa de esconder a tua mão. Este gesto alertou-te e olhás-te para a velha senhora. Mas em vez de ficares embaraçado como eu, sorris-te e retirás-te a mão para me abraçar para ti. Aproximas-te a tua cabeça da minha e senti que me irias beijar. Abracei-te tambem e deixei a minha mão deslizar para o teu sexo já bastante visivel nas calças, pelo volume que apresentava. O nosso primeiro beijo, doce, molhado e demorado, aconteceu ali perante uma ruidosa claque que do autocarro e em changane debitava palavras de incitamento algumas pouco simpáticas. De costas tive a completa certeza de que naquele momento a velha negra te piscava o olho num gesto de aprovação e incitamento fruto da velha sabedoria africana que tanto aprecias e partilhas.
Por fim, olhaste-me nos olhos com uma paixão que me encheu ainda mais de felicidade, como forma de selar aquele beijo. Apesar de todo o embaraço inicial, aquele momento ofereceu-me a segurança de que não me tinha enganado a teu respeito. Seguro, atrevido, provocatório e sem medo de ousar. Se mais nada fosse acontecer naquele fim de tarde só por aquele beijo testemunhado, tinha valido a pena ter viajado de tão longe apenas para te conhecer.

Não tive coragem de voltar a olhar para a esquerda apesar de velha senhora não me sairem do pensamento. A turba barulhenta tinha ficado um pouco para trás dado que a nossa fila avançava mais rápidamente e eu não tirei a mão do teu sexo nem no momento em que gentilmente entregás-te o valôr da portagem á jovem funcionária que não parou de olhar para o local onde eu tinha a mão com uma expressão critica tão comum entre femeas mal resolvidas e invejosas.
Curioso é que desde que me tinhas dado ordem para não falar eu ainda não sentira necessidade de dizer uma unica palavra. Mas sentia-me cheia de tudo e muito excitada. Completamente confiante e segura. Sem mais medos de nada.

Os ultimos kilometros da curta viagem foram percorridos em poucos minutos e em silêncio mas não mais deixei de te acariciar com a mão, apesar do enorme desejo que me invadia de te abrir o zip, fazer saltar para fora o teu sexo e ali mesmo experimenar o seu paladar.

Chegamos a um escondido motel numa zona de estrada de terra batida e arenosa. Depois de uma breve conversa com o segurança estacionas-te o carro frente a uma boungalow. Pelo á vontade com o segurança e conhecimento do local, deduzi interiormente que eras cliente ali habitual. Mas tal não me incomodou nem um pouco. Estava a cumprir um sonho de meses e estavas ali comigo. Queria aproveitar o máximo daquelas horas que tinhas para mim e esclarecer em definitivo as razões de tantas noites de insónia.

Ainda no carro, em breves segundos estavamos de novo abraçados e com as bocas e linguas coladas. As tuas mãos percorriam agora o meu peito quase nú, deixando um rasto de fogo atrás de cada movimento. Se não me tivesses pedido para sair do carro tinha saltado para o teu banco e sentada no teu colo teria sentido o meu primeiro orgasmo contigo, tal era o estado de excitação em que me encontrava.

Saís-te logo atrás e fizeste sinal para te acompanhar. A porta do quarto estava entreaberta e delicadamente fizeste um gesto para que entrasse. Juro que naquele momento nem nas cores das paredes daquele quarto alugado reparei. Logo que fechas-te a porta nas costas, fiz saltar os sapatos um a um e caí nos teus braços. Como se levitasse senti-me levada ao colo e depositada violentamente na cama. O teu corpo caíu em cima do meu e não foram apenas as nossas linguas que se fundiram. Foi um furacão incontrolável de energias e emoções que se libertaram. Botões saltaram da minha blusa, a saia subiu como por magia e saiú pela cabeça e a lingerie ficou literalmente em farrapos. Em segundos estava deitada de costas, completamente núa e a tua boca violentamente na minha gruta agitava-me as estruturas da base ao topo. Nunca na minha vida tivera um orgasmo tão rápido. Espasmos de calor invadiam-me o corpo como em ondas, ao ritmo crescente dos movimentos da tua lingua. Nada, mesmo nada na minha vida que tinha experimentado sexualmente era comparável áquele momento. O meu tronco possuído como por mil demónios arqueva e parecia querer levantar vôo para longe mas as ancas amarradas pela tua lingua e pelas mãos cravadas na minha carne eram violentamente estremecidas. Durante vários minutos senti um orgasmo inenarrável e inesquecível que de forma sábia prolongás-te até aos limite da minha e da tua resistência física. Nunca me imaginara a gritar daquela forma mas descobri naquele orgasmo o efeito sublime da libertação da vóz amordaçada á tantas e tantas noites de sexo incompleto e sem paixão comparável.
Exausto, deitaste-te ainda completamente vestido ao meu lado. Eu ainda a planar depois daquela subida ao pico mais alto da montanha simplesmente te olhava, incrédula com o teu desempenho e capacidade de dar. O teu rosto completamente alterado e molhado das torrentes liquidas libertadas pelo meu sexo resplandecia com os reflexos de uma luz morimbunda vinda de uma lampada de tecto.
O que me iria reservar ainda esta noite?

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