10 outubro 2006

Despedida


O desejo entre nós não foi instantâneo mas os constantes encontros em casa de amigos comuns e em festas, foi-nos mostrando que a atracção apesar de mútua tinha poucas hipóteses de dar em alguma coisa resumindo-se a jogos de palavras e olhares cúmplices trocados a cada encontro. No entanto o jogo aumentava de interesse conforme os encontros iam acontecendo.

Dois anos se passaram até que alguém me disse por um acaso que ele e a família iam partir pois o seu contrato de trabalho havia terminado. No momento pensei que não mais iria vê-lo mas um telefonema mudou tudo. Era um convite para uma festa de despedida que um grupo de amigos organizava para ele e família.

Compareci na festa sózinha pois o meu parceiro não estava na cidade. Logo no primeiro momento em que o vi tomei uma decisão. Em nome de todos aqueles anos de cumplicidade mal resolvida, a sua partida merecia uma despedida mais condigna apesar de não saber claramente se iria têr retorno na investida. Afinal ao longo daqueles anos ele nunca tinha explicitamente manifestado as suas intenções e arriscava uma recusa. Mesmo assim decidi levar o jogo até ao fim.

Durante a festa por várias vezes cruzamos olhares de desejo e a determinado momento, com o pessoal já bem animado convidei-o para dançar o que prontamente aceitou. Sem grandes alternativas, de imediato passei ao ataque perguntando-lhe de forma clara se não iria sentir no futuro saudades dos nossos peculiares momentos de cumplicidade nunca consumada. Mais do que pensas, respondeu-me com um sorriso encantador. Sem hesitar disse-lhe ao ouvido enquanto o apertava contra o meu peito que daí a cinco minutos deixaria um cartão com o meu numero de contacto debaixo da saboneteira do WC.

A noite alongou-se por mais umas horas e ainda dançámos algumas vezes quase sem trocar palavras. No entanto o clima criado no início estava ao rubro pois tocávamos prepositadamente em muitas ocasiões e os olhares eram cada vês mais quentes e reveladores do desejo que estavamos possuídos. Por diversas vezes olhei ostensivamente para as calças onde se notava perfeitamente a sua excitação o que o deixava embaraçado e me divertia muito.

Depois de ter apanhado o cartão deixado no WC enviou-me um primeiro sms bastante insinuante a que respondi com um convite expresso para um encontro a sós noutro momento. Daí para a frente foram vários os sms que recebi dele cheios de promessas e perguntas que eu prepositadamente não respondia, preferindo dizer-lhe com olhar o quanto a situação me estava a agradar. Excitava-me terrivelmente lêr as msg sabendo que estava a analisar as minhas reações. Esta atitude deixava-o completamente comprometido e em total estado de nervosismo. No entanto e porque era ele e familia o motivo principal daquela festa a noite acabou e nada mais aconteceu, apesar da vontade demonstrada pelos dois.

Quase não consegui dormir pensando no que iria acontecer no dia seguinte após as minhas investidas durante a festa. Mas a resposta não tardou. Por volta das nove horas da manhã ele ligou. E foi directo ao assunto. Não parava de pensar em mim e queria saber exactamente o que pretendia dele. O mesmo que tu, respondi-lhe. Sabemos os dois o que queremos porque somos adultos. Desligou para voltar a ligar minutos depois e muitas outras vezes ao longo da manhâ. Conversas rápidas mas cheias de planos e desejos contidos de anos em que jogámos aquele jogo perigoso. Ainda por cima relatados num português cheio de sotaque francês o que tornava tudo mais comprometedor e misterioso. Devia ser quase meio dia quando ele disse que precisava com urgência me encontrar ou então não ia conseguir fazer mais nada o resto do dia. Sem hesitar inventei uma dor de cabeça acabadinha de chegar e abandonei o escritório correndo para casa. Tomei um banho, troquei de roupa, meti-me no carro e rumei ao local combinado.

Era o parque de estacionamento de um shopping. Logo que cheguei vi o seu carro estacionado e parqueei junto. Saí e entrei no dele. Baixei o banco pois a aquela hora do dia não me convinha em nada ser vista por alguem conhecido. Ele achou engraçado aquele meu gesto e sorriu sem palavras arrancando dali de imediato. Fizemos todo o trajecto em silêncio, não sem que ele agarra-se a minha mão e a tivesse levado ao rosto num gesto de muito carinho.

Mantive-me quieta e bastante ansiosa, não tinha a mínima ideia de onde iamos, mas tinha a certeza que aquele homem iria tornar aquele momento em algo inesquecível, afinal de contas era a sua despedida e por certo os desejos contidos ao longo de dois anos tiveram o mesmo efeito nos dois.

Dirigiu o carro para o bairro nobre da cidade precisamente para a residencia de hospedes da empresa onde trabalhava. Chegados, de imediato ocultou o carro na garagem, trocou umas breves palavras com o segurança, passou um braço por cima dos meus ombrose e levou-me para dentro de casa. Quase sem palavras numa perfeita sintonia.

Já no interior segurou-me a mão e conduziu-me ao quarto principal. Surpresa foi quando ele abriu a porta. A cama de lençóis brancos estava coberta de pétalas de rosas vermelhas. Velas ardiam por todo o quarto que estava escuro pois as cortinas estavam fechadas. Fiquei completamente extasiada e em silêncio larguei a mão dele, deixei a carteira na cadeira que estava do outro lado do quarto, enquanto ele fechava a porta. A alguns metros mas com os olhos fixos nos dele, iniciei o ritual de tirar a roupa. Sapatos atirados ao acaso, jeans enrolados no chão, soltei o cabelo e lentamente subi até á cabeça a blusa justa que deixou á vista um jogo de lingerie de renda preta escolhido exactamente para ocasiões especiais.

Continuou de pé, parado, com os olhos fulminantes de desejo admirando-me o corpo quase nú. Avancei até ele e beijei-o docemente com os lábios apenas encostados aos dele. Ajudei-o a despir o casaco enquanto lhe beijava ternamente o pescoço. Desapertei o nó da gravata e enquanto abria cada botão da camisa descia a lingua no seu peito recém-descoberto. Com a mão desapertei-lhe o cinto e abri o fecho das calças acariciando-lhe o membro excitado.

O fogo que ardia sereno transformou-se em vulcão e em segundos estávamos na cama. As nossas bocas se perdiam uma na outra e aos poucos fui sentindo a sua língua descer em mim acariciando-me a pele tornando o atrito delicado em algo mais exigente. A calcinha de renda preta saltou como por magia e a sua lingua penetrou-me até á loucura. Sem tempo para sequer pensar senti o corpo invadido por uma torrente de desejo que palavras não explicam. Contorci-me na vontade incontida de ter aquele mestre dentro de mim e agarrei seus cabelos contra o meu sexo. Aquela lingua parecia uma cobra que me deixava completamente louca. Macia, activa e sobretudo experiente, ofereceu-me ali uma primeira explosão que o deixou absolutamente espantado. Na verdade aquele orgasmo foi obra construída e desejada tanto que só poderia ser sentido daquela forma. Durante alguns minutos gritei e rebolei perante o olhar atónito do meu parceiro, até meu corpo acalmar de tantos espasmos.

Quando reabri os olhos ele ainda me olhava. Beijou-me com paixão e o sabor de mim que vinha da sua boca reacendeu o fogo. Voltei-me e obriguei-o a deitar-se. Procurei a sua pele do peito com os lábios e demorei nos mamilos. Desci ao ventre e senti claramente a sua respiração alterada. Lentamente introduzi o excitado membro na boca até á garganta. Chupei sem grande pressão e com a lingua massagei a glande. Os sons de desejo que saíam da sua garganta eram como música celestial para mim. Quanto mais chupava aquele mastro mais o seu dono se excitava e eu mais vontade tinha de lhe oferecer desejo e paixão. E assim fiz durante alguns minutos, com o verdadeiro prazer de femea que adora dar ao seu macho tudo o que sabe ele gosta.

Não pude continuar mais. De repente senti-me abraçada e empurrada para a cama. Depois de breves segundos em que de forma simples colocou um preservativo, fruto da enorme excitação de que estavamos possuídos o seu corpo foi largado em cima do meu e sem mais tempo senti-me trespassada até ao fundo de mim. Doce violencia que aos poucos me deixou completamente louca e a adivinhar mais um orgasmo sublime. Em ascendente, ele experiente, foi aumentando o ritmo das investidas e em alguns minutos senti que não poderia esperar muito mais. Pedi-lhe junto ao ouvido que se viesse comigo. Nem resposta foi necessária. Um ronco surdo, profundo, saíu da sua gargante e senti claramente o seu corpo explodir num tremor. Era o meu momento e entre gritos de luxúria cravei as unhas na pele das suas costas o que obrigou o seu corpo a colar-se ainda mais ao meu. O espasmo foi claramente mais sereno que o primeiro mas muito mais demorado. A extrema sensibilidade daquele homem e o facto de ao longo do orgasmo ter continuado a movimentar-se dentro de mim, prolongando-me o prazer até ao limite, deixou-me completamente exausta.

Durante muitos minutos saborei a calma do momento e o relaxamento total de corpos abandonados. Tive no momento a completa consciência do prazer que partilhei com aquele homem e senti toda a incomparável verdade que existe numa relação de paixão roubada á rotina e aos códigos morais. A verdade da vida.

Enquanto ele fumava um cigarro em silêncio senti necessidade de partilhar aquele momento com o escorpião. Atrevi-me até em pensar que ele por tudo aquilo que representa no meu crescimento como mulher merecia ter estado ali. Num impulso liguei para ele mas não atendeu. Queria dizer-lhe quanta vida tenho vivido desde o dia em que nos conhecemos. Mas ele sabe.

Claro que a noite não acabou ali. Uma segunda ronda iniciada depois de uma breve conversa, teve já sabôr a reprise sem a paixão vivida apenas alguns minutos antes. São assim as relações urgentes que ficam para sempre. São assim as pessoas como eu que graças a um acaso transformam as suas vidas em vidas de verdade. Sem pudores na busca de Momentos de Vida.

O meu companheiro desta aventura partiu dias depois. Até sempre. Sem falsas saudades.

1 comentário:

Anónimo disse...

aventuras deliciosas que nos fazem crescer e VIVER