17 dezembro 2006

Ladrão de Sonhos



Apareces na noite escura que embala o meu corpo e os meus sonhos. Sem que me aperceba entras pela janela da minha alma e observas em silêncio o meu sono. Descobres que é um sono agitado, que tenho os lençóis molhados de transpiração e a roupa de dormir completamente amarrotada.

Queres acordar-me mas ao mesmo tempo te inibes com medo que eu me assuste.
Queres colocar-me entre os teus braços para me acarinhar e dizer bem suavemente que é apenas nesse abismo do teu mundo que não a lugar para mim, pois no teu pensar sou a única que te ocupa.

Nada fazes. Em silêncio apenas me observas e tentas em teus pensamentos sonhar juntamente comigo. Sabes que és mais forte, sabes que contigo por perto nenhuma tempestade me poderá magoar. Pela minha boca seca sabes que sonho somente contigo, percebes que pelo contorcer do corpo que te amo desesperada em busca do mais prazeroso dos prazeres, observas que pelo apertar das mãos nos lençóis te arranho a alma. Queres amar-me também em sonhos mas a realidade é tua crítica, ela te impede pois vives acordado. Queres enlouquecer-me com teus beijos ternos e molhados mas não te queres entregar.

Nada fazes. Não consegues entrar nos meus viveres porque és consciente demais. Por isso me acaricias apenas com o silêncio da tua voz tentando acalmar o barulho da minha alma inquieta.
E num gesto corajoso beijas-me suavemente a testa e deixas que os sonhos continuem o seu percurso.

Sais então silencioso pela noite, como um ladrão fracassado que se encantou pela vítima, não te deixaste levar como querias, deixas-te apenas dentro do vazio do quarto o aroma da ausência para que ao acordar eu descubra que nunca foste real, és apenas... um sonho perdido.

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