Dias de Segunda

Existem dias que começam encostados a algum parapeito de uma varanda sem muito sol. Momentos em que o vicio das escritas que começam sem nenhum sentido de ser, nascem do desequilíbrio das insónias e das velhas feridas que se enlaçam a sombra dos olhos e se prolongam nas angustias repetitivas do amanha do amanha.

Existem dias que o purgatório fode-me inteira, que os desejos são apenas traços aflitos no cume de inúmeras ondas mansas que se arrepiam no cume brusco dos meus passos rumando no compasso de um riso falso ou na inquietude de um gesto emendado em pecados a muito acontecidos.

Existem dias em que as persistências se entrelaçam em ventos e se trancam nos assobios de silêncios que se soletram na vastidão de um arco-íris a preto e branco que brinca na ponta dos meus dedos e se esvai nas poucas fatias do tempo que ainda iludem o futuro.

Existem dias que tem cheiro de sensatez aborrecida, amedrontada e sobrevivente de soluços mal guardados em sonhos descalços que desconhecem o trajecto das feridas e suportam o espelho da verdade trocando de alma a cada novo instante e fazendo prosas com letras que apenas colam palavras estilhaçadas.

Existem dias que me ausentar de mim é a solução mais viável, para que o reflexo dos meus vazios não faça eco acordando as bermas erradas dos meus limites e descubra que mais de metade do meu ser é feito de remendos diagonais, de um ventre vazio, fomes escuras e chamas enferrujadas de frenesins de luxúrias cansadas.

Existem dias que não são dias.