23 abril 2007

Maria Ma’sena


Era uma vez... pensando bem, melhor não começar assim, afinal isto não é uma história. Recomeço então...
Era um conto...
Era um poema... Não! Não! Não! Isto também não é poema e muito menos prosa. O que quero eu escrever então? Fico pelo prosema, a nuance entre a prosa e o poema.
É um acontecimento acostumado a acontecer lá pelas bandas de Caia onde demora Mária Ma’sena, mulher que chora chuva todos os dias, chora tanto que faz transbordar o Zambeze, chora cheias e inundações periódicas. Maria Ma’sena chora quando acorda ou quando dorme, tanto faz... ela chora rio enquanto canta para espantar seus dezmales. Cozinha, lava, culima, mas... não ama. Sonha choro de chuva, não aprendeu a lagrimar. Sonha com ontem em vez de sonhar com o amanha. Ontem ela sabe que viveu, mas amanha não sabe se estara nascida. Confusa essa Maria Ma’sena que se deixa sonhar.
Acorda as quatro da manha e dorme as sete da tarde... muito rotinada a rotina dela, chora muito também essa rotina, é como ela. Melhor dizendo rotina agora, é seu corpo. Mas da sua alma apenas o sonho é dono e ela sabe disso, porque antes de adormecer ela reza para as poucas estrelas que vê pelo tecto mal feito da palhota onde esvive-se com a família. Ela sabe bem o que quer... sabe que enquanto peneira milho farinhado deve ensinar seus filhos a não saberem sonhar com choro mas com esperança que ela não tem pois emprestou a vida enquanto era parida.

São três os míudos dela... um nas costas, mais um na escola de palha e outro novo um na barriga. Maria Ma’sena lembrou agora... faz 15 anos num dia destes.

17 comentários:

João Cordeiro disse...

Belissímo texto...

Faz-nos pensar num assunto muito peculiar.


Obrigado pelo teu comentário nop cantinho do sonhador

Jácome D`Alva disse...

Quem nao gostava de ter escrito este prosema. Eu gostaria.
Comeca a ganhar corpo aquele sonho. Vai ter capa cor vermelha de paixao com letras brancas de pureza.
Posso inventamaginar o titulo?

Parabens,,

João disse...

O pão que vida nos rouba, um beijo

Anónimo disse...

Um prosema com cabeça tronco e membros...
realmente é como diz o João Cordeiro, faz-nos pensar em algo mt peculiar
Jinhuz Xous

JLM disse...

Ma´sena me lembrou Má sina, intencionalmente ou não. Texto curto e direto. Sem rodeios e eficaz. Parabéns.

un dress disse...

belíssima escrita diva...

chora chuva...?!

ai que lindoooooooooooooooooooo!

deixaste-me a engolir em seco!





aSas pra ti.( nunca são demais...) ~~~




grande AbraçO

o alquimista disse...

Manhã submersa de palavras
Lava ardente nevoeiro
Uma nuvem que ameaça
Transfomar-se em aguaceiro...


A magia da atlântida dança no sul da ilha, saudade,
Transforma azul hortência
Em diamante de luz, que em meu peito arde


Mágico beijo

Phantom of the Opera disse...

Belo texto...

Amiga querida espero que gostes.

Beijo doce

Anónimo disse...

"prosa", "poema", "prosema", que importa a catologação perante a intensidade destas palavras?
Descrição perfeita sobre os sonhos que não existem, porque a vida não os permite....
Como sonhar com um futuro desconhecido, quando o presente é tão limitado...como sonhar quando as "asas" ainda tão frageis pelos parcos anos de existencia, estão "amarradas" a três seres que são "pedaços" de si....
Triste ou feliz esta existência?
Adorei o espaço.
Voltarei
Beijo
Vity

Escorpiana Explosiva disse...

passei pra agradecer a visita e realmente esta belo seu texto.abraço.

Avid disse...

Amigos,
Arrisquei em escrever um texto assim... tão diferente daquilo a que vos acostumei, descubro que a escrita me faz entrar em diversos tempos e espaços. Ainda não me descobri na exatidão e esta busca constante me leva a caminhos assim, nunca bem definidos na prática mas, bastante alcançaveis na alma. Fico imensamente feliz que tenham gostado do que arrisquei a escrever. Muito obrigado.
Bjs meus

Anónimo disse...

Lindo o texto, Diva. Nossa, lindo mesmo!

Já comentei aqui que eu acho muito bonito o jeito como vocês falam português? É diferente da gente aqui no Brasil...

Beijo

L.S. Alves disse...

Diva: ficou muito bacana. Começa por um caminho, fica tudo muito nebuloso e então não se sabe onde a coisa vai parar até que no final soluciona-se o mistério. Muito prazeroso mesmo.
Beijos meus pra você.

Avid disse...

Bruno
Obrigado. O jeito é diferente mesmo, mas aqui no texto tenho alguns “atropelos” propositados que fogem ao padrão da lingua portuguesa. É a possibilidade dessa transgressão que me faz amar a escrita.
Bjs meus

Avid disse...

I.s.
Realidades do meu país. As meninas trocam sonhos por realidades pouco ou nada humanas. Bjs meus

L.S. Alves disse...

Aqui não vai muito diferente disso e não é só no interior não. Nas grandes cidades taqmbém ocoorre coisa parecida, às vezes idêntica.

Anónimo disse...

Ainda n tinha passado por aqui... bom, muito bom mesmo... parabéns.

Bj